Coisas que não esquecem
por Jorge C Ferreira
Encontros e desencontros. Dias anunciados que se esquecem de aparecer. O momento que conta. A alegria que nos alegra num assomo de ventania. A vida que importa. Uma caminhada para o desconhecido. O descanso num sono profundo. Virtudes e anseios que se gastam num lento respirar. Ouve-se uma música que se tenta trautear. Nem a falta de afinação nos demove. É baixinho que arriscamos a aventura. Há quem sorria para nós. Assim nos sentimos agraciados.
Falamos sobre os concertos antigos que vimos. Alguns tão intimistas que quase podíamos tocar a voz do cantor, o sopro do flautista, a tecla do piano, a corda da viola. Os grandes que passaram à nossa frente e nos ofereceram a sua arte única. Os que marcam pela diferença. Por serem únicos. Os que já nos deixaram e não esquecemos. Os que mesmo cantando para uma casa cheia pareciam cantar só para nós. Os inesperados “encores”. Prendas que apareciam como noites de lua cheia. Espetáculos que nos dizem que vale a pena viver.
No dia 24/6/2023, a Poética, a editora que só uma mulher corajosa como a Virgínia do Carmo consegue levar para a frente, fez 10 anos. Aniversário que foi comemorado na vestuta Livraria Ferin. Muitos autores presentes. A Virgínia, fez questão que eu e a Graça Pires estivéssemos com ela numa espécie de mesa. Ao meu lado, Pedro Branco, de viola em punho. Cantou e tocou, mesmo ali ao meu ouvido. Por vezes fechei os olhos e ouvi o timbre do Zé Mário Branco. Não sei como não chorei. Estava noutro concerto intimista. Veio-me à memória um tempo já antigo e um espectáculo que não esqueço. O ainda antigo Teatro Aberto. O cantor. O alinhamento perfeito. O “Ser solidário”. No fim o pedido e o esperado “encore”. O inesperado “FMI”. O espectáculo após o espectáctulo. A euforia de um teatro de pé num aplauso único. Os gritos de bravo, bravo. O artista nunca mais cantou aquele texto. Porque era único e para uma ocasião única. Saímos daquele teatro de coração cheio. A vida tinha feito sentido mais uma vez.
Entretanto o Pedro Branco cantava mais uma canção. E, de vez em quando, lá vinha aquela voz que nos fazia lembrar o saudoso Zé Mário Branco. Os poetas da Poética leram os seus poemas. Depois houve bolo e espumante e vozes que continuavam a ecoar pela sala. Acho que a festa ainda não acabou. Porque o Chiado, é sempre uma festa para mim.
Foi durante o caminho para casa e enquanto jantávamos que esta conversa veio à baila com a Isabel. Isabel que assistiu comigo àquele “FMI” e ainda hoje o lembra imensas vezes. Foi com ela que confirmei que no fundo na voz do Pedro havia Zé Mário. Emocionámo-nos. Coisa normal em quem está vivo.
Podia-vos falar de outros momentos que marcaram a nossa vida. Podia só falar de como o nosso respirar se altera em momentos destes. Podia até não falar de nada e fazer um exercício da arte da presença. Podia escrever só “FMI” e a maioria de vós compreenderia tudo. Esta mania de juntar palavras às palavras!
«Lembro-me de ouvirem esse disco vezes sem fim. Lembro-me de mo fazeres ouvir também.”
Fala de Isaurinda.
«Espero que não te tenha castigado muito com estas minhas coisas.»
Respondo.
«Por acaso até gostava. Se não ia dar uma volta e nem davas por nada.»
De novo Isaurinda e vai, uma inquietação no andar.
Jorge C Ferreira Setembro/2023(407)
Pode ler (aqui) todas as crónicas de Jorge C Ferreira
Momentos e memórias do teu viver que florescem muito bem nos teus traços redactoriais.
Momentos sempre bem apelativos, nestas “CRÓNICAS” onde resumes sentires e apresentas momentos de uma forma ímpar.
Momentos … que não se podem perder de leituras, com mil perdões , pelo meu atraso … mas as obrigações de pai e avô, por entre velhices e outras chatices (para rimar) ocupam o meu relógio do dia a dia .
Grande abraço!
Obrigado José Luís Outono, meu Amigo, Poeta. As tuas palavras chegam sempre a tempo. A manhã gratidão. Abraço forte.
Obrigado Tita, minha Amiga. Como srmpre de uma beleza sucinta o seu comentário. A minha gratidão.
Abraço.
Viver elevado à vida!!! Só assim a é!!!
O resto é também um pássaro branco a sobrevoar sobre nós, em terra ou mar.
Sonhos, ilusões, fantasias que vão e voltam. Às vezes ficam, concretizam-se. A esperança que vence. A vida a acontecer.
Beijinhos ❤️
Isabel, minha Amiga. Obrigado. Quan um pássaro branco vive dentro de nós, somos o sonho da vida. Que a vida aconteça.
Beijinho.
Divagarpelo que nos faz sentir bem é viver a plentinude do passado e do presente. O presente será melhor futuro, dele se vive e revive passagens e memoráveis dias, melhor quando ambos se sabem ouvir. Poucos saberão e entender essa sintonia perfeita. Sem dúvida que partilhar quem caminhou e descansou lado a lado tem outro universo de mil estórias, um livro de memórias e caminho feito a dois, por muito que houvesse outros, é vossa a história que fica. Aqui neste recanto usufruo dessa imensa cumplicidade como se fosse companheira de viagem e partilhasse ocasos e acasos do mesmo céu, também se viaja partilhando o mesmo céu, basta olhar e pensar o quanto distantes estão estando tão perto, olhando para a mesma lua, as mesmas estrelas. Tão pouco para ser feliz, basta ser caminhante do vosso sonho que depois contam como estivéssemos sentados a ouvir-nos. Ouvir-nos, escutarmo-nos é tão mais importante como ler o vosso diário de caminhantes do mundo. Abraço imenso pelo gosto e prazer da leitura. Aguardo a próxima carta, pois para mim é mais uma carta que leio todas as segundas feiras neste encontro possível. Abraço meu amigo!
Obrigado Cecília, minha Amiga. O sentido que tem partlhar a vida. Belas as tuas palavras. Espero escrever, outra carta, como tu lhe chamas na próxima segunda feira.
Abraço grande
A pausa findou e o escritor delicionou-nos com mais uma crónica. As saudades dos seus textos. Os afectos. Os sentimentos e as emoções nas palavras transportam-nos para o âmago de um registo a que nos habituámos sem nos habituar. A criatividade, sem álibi , surge numa conciliação, sem consentimento, da (in)conciliação de um “discurso” inicial poético com o momento, o local (outros locais surgem) e a memória de outros momentos, em outras circunstâncias. O passado e o presente entrelaçados a desafiar a morte e a finitude (quem sabe o envelhecimento).
O cronista conduz-nos para a essência dos múltiplos momentos (fugazes, mas eternos) que marcam e se tornam constituintes da nossa identidade. Da sua identidade. Capta a possibilidade de se definir (em espelho). E nessa imagem verbalizada, surge em nós, (a ousadia) uma compreensão de um ser em permanente definição. “Acomodado” somente aos momentos que estão em si.
Pessoas presentes (mesmo que já ausentes) a povoarem o seu ser. Momentos vividos. O sentido das coisas (do seu trajecto e rumo). O sentido de si. Momentos vinculativos, suporte(s) da sua unicidade. Arguidos de uma vida que acompanhamos.
A memória a “atraiçoar”as emoções. Memórias vivas de momentos inalgurantes das múltiplas personagens de que somos feitos. Por isso é da dinâmica de uma vida de que fala, na relação com os outros. Os pares. Relações de afecto e compromisso. O alimento. Um ser que se comprometeu com o meio ao seu redor. E disso nos dá conta com uma mestria própria que o caracteriza.
Obrigado Isabel, minja Amiga. Obrigado pelos seus belos comentários e pela sua generosidade. Ler os seus comentários é uma recompensa imensa para quem escreve. Cama comentário seu dá força para escrever de novo.
Abraço.
Obrigado Cecília, minha Amiga. O sentido que tem partlhar a vida. Belas as tuas palavras. Espero escrever, outra carta, como tu lhe chamas na próxima segunda feira.
Abraço grande
Maria Matos 27-09-2023 00.15
Que bom reler as suas crónicas , Jorge.
Que bom relembrar tempos antigos dos quais não Noé esqueceremos! As músicas, e.quem as cantava.
Tantas emoções, tanta felicidade que essas memórias nos trazem. Adorei Abraço amigo!
Muito obrigado, Maria Matos, minha Amiga. Grato pelos seus comentários, pela sua presença neste espaço. É sempre com alegria que a leio. Muito grato.
Abraço Amigo
5de volta à música das palavras.
às canções guardadas a sete chaves.
ao transplante da festa de ser livre
de regresso ao sentimento. eco.
à alegria de fazer bater mais apressado
um coração.
estar no lugar e no sítio certos onde tudo acontecia. inconfundível.
os poemas ditos
as sonoridades soltas.
a voz arrancada ao amor pela liberdade
um rumor de asas
paredes a meias com um retrato vivo que resistiu à moldura do tempo.
o retorno ao palco.
a uma porta aberta para o pulsar das palavras clamadas
no caminho da saudade.
aos cantantes. aos trovadores.
aos magos que deixaram marcas indissolúveis à distância de um ontem.
tudo nos teus lábios é hoje canção e volta à paisagem dos dias alegres e inteiros.
deixa que te diga do meu deslumbre.
de te poder abraçar no que voltaste.
desta ovação de alma.
também eu assisti ao espectáculo.
três cantos. Zé Mário Branco,.Fausto e Sérgio Godinho.
há coisas que não se esquecem!
Obrigado Mena, minha Amiga. Sempre um belo poema em cada comentário. A dádiva, a bondade. Uma festa escrita a ouro. A minha imensa gratidão.
Abraço enorme
Belíssimo. Que bom regresso a estas crónicas.
Memórias que constroem a vida. Momentos únicos, nostálgicos, intimistas.
Obrigada Amigo por este reviver.
Um abraço.
Obrigado Eulália, minha Amiga. A alegria que é a sua constante presença, ler os seus comentários. Por vezes temos de viver o que nos marcou. A minha gratidão.
Abraço
Como sempre, a sensibilidade presente em si.
Coisas, pessoas e lugares, que nos marcam profundamente. Momentos que vivemos e ficam connosco. Emoções que nos sabem bem. Lindo o que escreveu. Perfeito para iniciar mais um ano, neste, simpático Jornal.
“Coisas que não esquecem.”Quando são sentidas e escritas com bom gosto, como sempre são as suas palavras. Que bom tê-lo de volta.
Um abraço, querido escritor adorei.
Obrigado Maria Luiza, minha doce Amiga. Que bpm ter gostado neste ir ao passado através do presente. Tudo foi comovente. A minha enorme gratidão por estar sempre neste nosso espaço.
Abraço
Tão bom termos memórias de momentos únicos que nos emocionaram. Significa que os vivemos intensamente. E quando alguém os vivenciou connosco e, juntos, os podemos recordar, é um privilégio. Mesmo envolvendo alguma nostalgia, a partilha desses momentos mágicos leva-nos a uma outra emoção: a de termos feito caminho juntos!
Obrigado Maria, minha Amiga. Tão bom reatar esta conversa. Há caminhadas que nos marcam para sempre. A minha eterna gratidão.
Abraço
Maravilhoso como sempre! Amei!
Obrigado Claudina, minha maravilhosa Amiga. Que bom estares aqui de forma simples mas intensa.
Abraço
“Coisas que não esquecem” por Jorge C. Ferreira em 25 setembro 2023
Mais uma belíssima crónica! Realmente há coisas que só o maldito Alzheimer nos poderá fazer esquecer…Obrigada meu Amigo por tão bem nos falar ao coração. Grande abraço
Obrigado Margarida. Reviver o que nos arcou para sempre atravŕs do presente. Muito grato.
Abraço
Como sempre… lindo o seu pensar escrito 💖
Abraço grande 🌼